sábado, dezembro 10, 2011

Desmistificando as Bruxas

Há alguns anos, o Brasil tem se mostrado mais ligado à celebração do Halloween, data tradicional no hemisfério norte para comemorar o “Dia das Bruxas”. Popular entre as crianças e os jovens, o dia das bruxas é comemorado em 31 de outubro. Nessa noite, acredita-se que o “véu” que separa o mundo físico do mundo dos espíritos fica mais suscetível às transições… Como o blog destina-se a comentar sobre episódios considerados sobrenaturais, nada melhor do que ir direto ao tema.
Porém, se você imagina que falarei sobre bruxas velhas e medonhas, voando pela noite em cima de uma vassoura, enganou-se. Procurarei expor a origem das bruxas.
Não se pode afirmar, numa linha do tempo, quando teve início a prática de bruxaria, porém alguns pesquisadores afirmam que foi iniciada pela sociedade comum, ainda na Antiguidade, e as histórias que se seguiram desde então deram origem ao mito das bruxas, que se propagou até a atualidade. Há duas teorias:
I – As práticas de bruxaria envolvem rituais simbólicos. A primeira demonstração da arte de devoção foi encontrada em cavernas do período neolítico, nas quais se viam, nas paredes, ilustrações dos rituais de adoração às deusas da fertilidade dos povos primitivos. Os rituais de caça e as cerimônias de cura sempre estiveram presentes nos símbolos e metáforas da cultura dos povos.
Na Antiguidade, o culto aos deuses, as grandes caçadas e, as visões dos sábios eram gravadas ou pintadas nas paredes das cavernas.
Na Antiguidade, o culto aos deuses, as grandes caçadas e, as visões dos sábios eram gravadas ou pintadas nas paredes das cavernas.
Ainda na Antiguidade, na então região da Bretanha (atual Reino Unido da Grã-Bretanha), as sacerdotisas dividiam-se em três classes: as que viviam em conventos (não de origem religiosa), num regime de celibato, eram as mulheres da classe mais alta da sociedade. As outras duas classes podiam se casar e viver nos templos ou com os maridos e família. Com o advento do Cristianismo, o papel da mulher na sociedade foi reduzido, as práticas de cura e o culto a outros deuses foram banidos.
As mulheres que conheciam e praticavam a arte da cura foram denominadas bruxas e perseguidas por muito tempo.
As mulheres que conheciam e praticavam a arte da cura foram denominadas bruxas e perseguidas por muito tempo.
II - Durante a Idade Média, toda e qualquer mulher que obtinha poder (não poderes mágicos, mas sim o direito à sucessão da terra, herança da família, influência política, etc.), eram consideradas bruxas.
A palavra “bruxa” em sânscrito significa “mulher sábia”. As bruxas eram consideradas sábias, até a Igreja lhes atribuir o significado de mulheres dominadas por instintos inferiores, responsáveis por desviar o homem de seu caminho.
Nas sociedades patriarcais (nas quais o homem era o detentor do poder), juntamente com o Cristianismo, as mulheres foram colocadas em segundo plano e consideradas “objetos de pecado” utilizados pelo diabo para manipular os homens.
As lendas descrevem as como velhas assustadoras, que saem à noite enfeitiçando os outros.
As lendas descrevem as bruxas como velhas assustadoras, que saem à noite enfeitiçando os outros.
A caça as bruxas ocorreu em paralelo a grandes mudanças sociais na Europa, arrasada na época por guerras, cruzadas, pragas e revoltas dos camponeses. Havia uma busca incessante pelos culpados por esse quadro.
A Igreja aproveitou-se desta situação de caos para iniciar a perseguição às bruxas, as quais eram acusadas de possuírem poderes mágicos que acarretavam problemas de saúde nas pessoas, adversidades espirituais e calamidades naturais.
Não havia critérios para se denunciar uma pessoa ao Tribunal da Inquisição promovido pela Igreja Católica, qualquer um poderia ser considerado suspeito, preso, até que demonstrasse sua inocência por meio de provas.
O objetivo de tanta maldade era fazer as vítimas assinarem as confissões escritas pelos inquisidores.
Os métodos de tortura da Inquisição eram cruéis e violentos.
Os métodos de tortura da Inquisição eram cruéis e violentos.
As pessoas não tinham saída: se persistissem em afirmar sua inocência, eram queimadas vivas; se confessavam, a morte era mais compassiva: geralmente, primeiro eram esganadas e em seguida queimadas.
Acredita-se que perto de nove milhões de pessoas foram incriminadas, julgadas e condenadas à morte, sendo que 80% eram do sexo feminino, abrangendo também crianças que teriam “legado este mal”, a bruxaria.
Mulheres eram condenadas às fogueiras acusadas de bruxaria.
Mulheres eram condenadas às fogueiras acusadas de bruxaria.
E, por mais incrível que possa parecer, ainda nos dias de hoje, em alguns países, rituais bizarros, com muita tortura, com a intenção de salvar uma pessoa dos males da bruxaria. Ignorantes, as pessoas fazem rituais de salvação de crianças, maltratando e traumatizando-as simplesmente por acreditarem que elas são bruxas.


Wicca – a bruxa moderna

A Wicca é uma religião neopagã, iniciática e sacerdotal, que tem seu culto voltado a um casal divino cósmico, criador. Tornou-se conhecida por meio de Gerald Brusseau Gardner (1884-1964) o qual, com os conhecimentos obtidos em diferentes sistemas ocultistas e ramificações de bruxaria, desenvolveu e compilou aquilo que viria a se tornar as bases dessa religião. As práticas da Wicca são baseadas em diferentes sistemas de crença, culto, cultura, organização e mistérios dos povos Europeus. Essa religião da forma que é conhecida atualmente é nova, criada por volta da década de 1950, mas a origem de sua estrutura é bastante antiga.
Calendário dos festivais sazonais comemorados na Wicca.
Calendário dos festivais sazonais comemorados na Wicca.
A religião Wicca celebra a vida e a morte por meio de festivais sazonais conhecidos como Sabás. Neles, os praticantes se reúnem para meditar, agradecer, dançar, encontrar amigos, prestar culto aos deuses, projetar desejos para o futuro e harmonizar corpo, mente e espírito. Além dos Sabás, que são relacionados aos ciclos solares, os wiccanos se reúnem também nos ciclos lunares para oferendas, agradecimentos, pedidos, para se conectar com as divindades, fazer consagrações e purificações e demais práticas comuns a essa religião.

A Wicca cultua o demônio?
Ninguém melhor para explicar essa visão distorcida do que a presidente da Abrawicca (Associação Brasileira dos Wicca): “as bruxas sequer acreditam que exista um ente que se chame diabo ou que seja um inimigo de seu Deus… nossos deuses personificam o todo, tudo o que existe no universo. Como não acreditamos que o diabo exista não podemos fazer rituais satânicos ou pactos com um ser que é ‘história da carochinha’, feita para assustar e controlar a mente dos que temem essa figura lendária. Não se presta culto ao que não existe. Bruxaria nada tem a ver com satanismo, e não existe algo que se chame ‘bruxa satânica’. Se algum dia você ouvir alguém se intitular assim, saiba que é uma falsa bruxa”.

No que acreditam os praticantes da Wicca?
Na Wicca, acredita-se na lei do retorno (Três Vezes Três): tudo o que se faz a alguém, seja bom ou ruim, invariavelmente voltará para quem o fez ampliado três vezes. Esta é a principal regra Wicca, o que leva aos outros, tais como “Faça o que quiser, desde que não prejudique ninguém (nem a si mesmo)”. Como religião, entretanto, não apresenta hierarquia de poderes, sendo possível até mesmo a autoiniciação e a prática solitária.
Os praticantes acreditam que cada um deve cultuar a deusa à sua própria maneira. Sem imposições ou leis escritas. Há, porém, alguns pontos em comum com algumas crenças e religiões: convicção na reencarnação, consciência em relação à cidadania, repúdio a qualquer forma de preconceito, servidão a terra, igualdade entre homens e mulheres. Por isso as práticas contemplam o equilíbrio entre o feminino e o masculino, por serem forças complementares.
Os praticantes da Wicca procuram seguir algumas metas, tai como: conhecer a si mesmo, saber sua arte, aprender, usar o que aprendeu, manter o equilíbrio de todas as coisas, manter suas palavras verdadeiras, manter seus pensamentos verdadeiros, celebrar a vida, alinhar-se com os ciclos da Terra, manter seu corpo saudável, exercitar seu corpo e sua mente, meditar, honrar a deusa e o deus.
Os wiccas trabalham com os todos os elementos da natureza.
Os wiccas trabalham com os todos os elementos da natureza.

Mártir, santa ou bruxa?
Joana d’Arc foi uma das mulheres mais fortes e guerreiras que o mundo já conheceu. Ela nasceu em 1412, no vilarejo de Domrémy, França, no ápice da Guerra dos Cem Anos, conflito que se iniciou em 1337 e teve fim em 1453. A situação francesa era crítica tanto na política quanto na economia. A Igreja estava enfraquecida devido às limitações do papado, para sobreviver em meio aos poderosos a Igreja saiu em busca de alianças.
Na adolescência, Joana passou a ouvir vozes de santos.
Na adolescência, Joana passou a ouvir vozes de santos.
Ao completar 13 anos, a jovem passou a ouvir vozes de figuras sagradas: São Miguel, Santa Catarina e Santa Margarida. A primeira orientação que as vozes deram para Joana foi para que ela permanecesse virgem para obter a salvação de sua alma.
Mais tarde, as vozes passaram a orientá-la sobre política, afirmando que Joana deveria conduzir um exército para guiar os franceses e coroar o príncipe herdeiro do trono, Carlos, mais conhecido como Delfim, e, assim, salvar a França dos ingleses.
A Petit Editora editou o livro Joana D’Arc por ela mesma, nele você encontrará toda a sua história.
A Petit Editora editou o livro Joana D’Arc por ela mesma, nele você encontrará toda a sua história.
Em setembro de 1430, ferida na tentativa de libertar Paris (a capital da França ainda estava sob domínio inglês), foi presa e entregue a seus inimigos. Inicialmente confinada no castelo de Ruão, foi denunciada à Santa Inquisição, que a fez passar por seis meses de julgamento, até 30 de maio de 1431, quando, considerada bruxa e herética, foi condenada à fogueira.
Meu intuito neste post é mostrar o quanto o ser humano pode ser cruel, simplesmente por não conseguir respeitar o direito do outro em crer, independentemente de sua religião ou fé. Homens e mulheres, milhões deles, morreram em virtude de preconceito, ganância e poder de grupos, porém, mesmo aqueles que não faziam parte dos poderosos daquela época, podem ser responsabilizados pelos crimes em virtude de sua omissão. Ao se omitirem, foram coniventes, cúmplices, com uma barbárie.
De certa forma, embora não haja mais um tribunal de inquisição, casos como mendigos queimados, homens espancados por sua preferência sexual, mulheres e homens vítimas de falsos exorcismos ainda são o reflexo de nossos erros do passado, ou seja, não aprendemos com nossos erros e ainda precisaremos reencarnar muitas vezes…

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