domingo, outubro 09, 2011

HÉCATE
































“A Deusa Negra é, até agora, pouca coisa mais do que uma palavra de esperança murmurada entre os poucos que serviram seus aprendizados à Deusa Branca - ela levará homem de volta àquele instinto certeiro de amor que há muito tempo se perdeu por orgulho intelectual…” (Robert Graves)

Quem é essa presença magnética e que forças nos compelem a segui-la? Ambas, a história e a mitologia demonstram uma tradição discernível de initiatrix feminina. Uma linha tênue liga os Mistérios da sabedoria antiga à Europa Cristã medieval, no florescer do Renascimento literário o domínio dos poetas de século XII, cujas metáforas poderosas e alegorias prevaleceram como uma conjunção esotérica e erótica entre a mídia ortodoxa medieval. Dentro do culto gnóstico da Virgem Negra no sul da França medieval, ela é por vezes chamada de "A Notre Dame de Lumiere"; e isso é sugerido por Peter Redgrove (1989:134) como sendo em igual extensão à Deusa Negra, Mary Lucifer, a doadora-da-luz - Madalena, cujo símbolo é a rosa, e a rosa também é a flor de Vênus, cuja total florescência exemplifica amor sagrado/secreto. Mas ela também representa a sabedoria esotérica dos mistérios femininos, a ambos, carnal e religioso. Essa informação "sub-rosa" era revelada somente aos iniciados que buscavam esclarecimento e gnose.

Poeticamente, Redgrove descreve as engrenagens esotéricas em jogo por trás do disfarce do gênero conhecido como 'o amor cortês'; como a energia sexual radiada dos olhos do amado, fundindo no corpo sutil do amante, iluminando e elevando o espírito (ibid). Lembrando que os olhos são as janelas para a alma, esta emanação de 'luz' - o poder psíquico da alma - mais adiante é explicada como segue: “... O invisível assim se torna sensível pela operação de espíritos dependentes do funcionamento fisiológico do corpo”.(ibid). Tal preliminar intelectual induziu à radiação dos kalas(1) que explodiram em ondas miasmáticas de pneuma orgasmos(2), secreções somáticas absorvidas e transformadas nos atos de comunhão. Redgrove (1989:48) expressa essa força da Deusa Negra como “a luz negra se dobrando como os loa, tecendo sua teia ao redor de tudo que está dentro de seu aperto, ela é a luz da revelação dentro da escuridão.” Estas poderosas palavras evocativas sugerem o papel de 'Destino', cujos processos alquímicos maithunic(3) eram movidos pelas mulheres que operam sob o papel tradicional de hierodule ou initiatrix sexual, mas a quem elas estavam representando?

A Virgem Negra era um símbolo da alma, um portal no supraconsciente, a encruzilhada dos sentidos. Como prostituta e deusa escura, ela guia os mistérios da morte e renascimento, revelando o seu conhecimento herético da menstruação e magia Kundalini; sua sabedoria serpentina, explorada nos reinos dos sonhos onde as experiências reveladoras são de maravilhar (Redgrove 1989:136-38). Estas imagens evidenciam uma deusa de longe mais velha, mais antiga. A Madonna Negra na catedral de Chartres na França é conhecida como Notre Dame de Souterrain, ou 'Nossa senhora do Subterrâneo' (Picknett & Prince: 1197:151). Talvez nossa primeira dica de Hecate? Maria é constantemente retratada como uma fiandeira, fazendo alusão ao seu papel como a senhora do destino - outro papel mais tradicionalmente atribuído a Hecate.


Redgrove (1989:115-120) apóia a Deusa Negra como a mulher primal, uma deusa primal, uma Rainha de Encantamentos, de Magia negra e todas as coisas ocultas; seu esplendor oculto é a inspiração de poetas e reis. Mais adiante, ele posiciona esta Deusa Negra como cognata ao Espírito Santo, Sabedoria - a amante Abisag de Sunam do Rei Salomão... "Foi Eu quem cobriu a Terra como uma névoa. Sozinha eu fiz um circuito do céu e atravessei as profundezas do abismo... Quem de mim se alimenta ficará com fome de mais, e quem de mim bebe terá sede de mais..." (Ibid). Redgrove a percebe como um succubus, assombrando o mundo dos sonhos noturnos - os reinos de Hecate, a remetente dos sonhos. Todos os aspectos da Deusa são explicados por Redgrove (1989:117) como psico-erótico, multifacetado, subliminal e físico de uma só vez. Além disso, como uma forma de sabedoria, ele vê a deusa negra Hecate como a luz radiante - a chama escura, dama-estrela e portal para outros mundos (1989:138). Ainda mais interessante, ele a assume como Maria-Lúcifer, a lumen naturae, a illuminatrix da alma (ibid:156) Mas, será que podemos substanciar essa fenomenal suposição? Sim, nós podemos. Mitologias históricas fornecem material de origem relevante, sobre o qual o leitor é encorajado a tecer suas próprias conclusões.

Dentro dos Mistérios Órficos, Nyx, um negro espírito alado, levantou-se do Vazio do Kaos para deitar o ovo cósmico de prata contendo o dourado espírito alado do amor, Eros - também conhecido como Phanes o Revelador, cuja beleza radiante iluminou a Terra. Nyx, a Mãe Noite primal, dentro de seu reino estrelado também deu à luz as Fates (Destinos), as Hesperides, as Fúrias e Nêmesis (George 1992:112-117). Como a mitologia evoluiu, a precedência era classificada como dia e luz; todas as coisas sinônimas à noite escura ficaram exiladas ao chthonic (de 'khthonios' - dentro ou fora da Terra), isto é: fertilidade, parto, abundância, colheitas, destino e morte, reino do submundo, regiões astrais, o mundo dos sonhos, e a psique interna. Com efeito, Hecate se desenvolveu como a guardiã desses lugares sombrios e solitários, e de seus inerentes Mistérios ocultos. Atos obscuros do mistério sexual, Kundalini, profecia, inspiração e adivinhação, todos vieram de dentro de seu dom. Criaturas da noite - corujas, cachorros e cavalos se tornaram seus totens, assim como o fizeram todas as criaturas do submundo aquático - cobras, serpentes, aranhas, sapos e rãs. (Ibid) Como Dama da Transe-Formação, sua luz divina de gnose é secretada por seus poderes chthonicos de vida e morte; sua sexualidade voraz leva suas vítimas em um abraço profético de regeneração. Suas sacerdotisas legendárias levavam os agonizantes através de uma morte extática pelas suas convulsões orgásticas (George 1992:111).

Ultimamente ligada à lua negra, anteriormente Hecate sempre havia sido a deusa da iluminação da alma. Tempo e destino estão dentro de seu domínio; muitos de seus epítetos revelam seus inúmeros papéis e formas - Sábia, Rainha das Sombras, Senhora da Iniciação, Guardiã do Portal, Condutora de Almas, e A Brilhante (www.hecate.org.uk/history.html). Para os místicos, a Noite Escura é a profundeza do amor (Eros) e luz (Phanes). George (1992: 118) afirma que dentro filosofia Oriental o preto representa o estado informe da matéria pura e um todo unificado, sem nenhuma separação. Isso é um truísmo refletido dentro da Nyx grega e a Nut egípcia, ambas carregam a mensagem eterna da matrix universal como uma expressão do verdadeiro amor (sabedoria e compreensão/compaixão), da qual a ignorância induz ao medo e vazio.

Waterson (1999:190) recebeu muitas críticas dos acadêmicos por promover a idéia de que Hecate é derivada de Hekt, uma deusa egípcia de cabeça de sapo, deusa do nascimento, morte e ressurreição, parteira dos deuses, mas sua teoria é merecedora de uma melhor inspeção. Esta deusa primal criativa parece ter ajudado Osíris a se levantar dos mortos, precedendo o papel adotado por Ísis. Além disso, seu símbolo, o sapo, foi mais adiante adotado pelos Cristãos para representar a ressurreição de Cristo. Foram encontrados em numerosas luminárias cerâmicas com a inscrição: “Eu sou a ressurreição”. O eminente egiptólogo Wallis Budge (1971:63) explica que dentre os ritos fúnebres egípcios, o amuleto de sapo (juntamente com o escaravelho) era colocado sobre a múmia, para mostrar o poder de ressurreição de Hekt sobre o mesmo.

Mais tarde a mitologia grega revelou que Hecate, assim como Lucifer/Lux (luz) nasce de Nyx/Nox (escuridão). Bem antes disso, contudo, ela era originalmente uma deidade da Trácia e foi adotada no panteão grego como uma Titã, uma deidade pré-olímpica. Ela era descrita como uma bonita donzela com cabelos adornados por estrelas que iluminavam as trevas. Sua tocha em chamas revelava seu papel como illuminatrix e Condutora (a que guia os mortos) através de seus três reinos - os Céus, Terra e os Mares/Mundo Subterrâneo. Como já demonstrado, somente mais tarde, quando foi consignada ao Inferno, ela assumiu o papel mais sinistro de tomadora de almas. Curiosamente seu dia de festa é 13 de agosto, como uma deusa de fertilidade, e é um dia em que ela é propícia a evitar desastres que acontecem às colheitas. É notavelmente perto de 15 de agosto, quando acontece a festa da Santa Virgem Maria, a qual mais tarde assumiu essa função!

Em cada uma de suas quatro mãos (às vezes seis), Hecate maneja um objeto; uma chave que destranca os mistérios ocultos e a sabedoria da vida após a morte; uma corda/flagelo que representa tanto o cordão umbilical (permitindo nascimento) e o laço (morte); e a adaga, o símbolo da verdadeira vontade, que corta a ilusão e divide a corda (permitindo o nascimento) e o laço (facilitando a libertação da alma). Em sua quarta mão (nesta ou ainda nas três restantes) ela eleva a tocha (ou tochas) de iluminação e iniciação. Assim pode-se ver que ela preenche todos os papéis de Creatrix, Illuminatrix e Initiatrix - a (verdadeira) Deusa Tripla (de tripla face) (George 1992:142-45).

Tanto Hecate quanto Hermes compartilham o papel de "Condutor de Almas" e "Protetor das Encruzilhadas" e caminhos secretos dos planos mentais e físicos. Hermes freqüentemente se posta de pé ao lado de Hectarea, uma forma tríplice de Hecate, completa com suas três cabeças e seis braços. Acredita-se que sejam amantes ou companheiros, e eles são curandeiros, protetores da energia lunar e arautos da morte. Fazendo a ponte entre os mundos, eles revelam o passado, presente e futuro simultaneamente, conferindo visões proféticas e comunicação ancestral. De seu mundo crepuscular de ilusões, seus dons de encantamento asseguram o arrebatamento e ventura de seus devotos.

Hecate - Arte de Enoque Zedro
Outro epíteto bem menos conhecido é Hekatos, que significa “A Distante” (a Magia transportada através do ar que atinge seu objetivo), o qual Hecate, como uma forma de Ártemis, divide com Apolo. As lendas também falam dela como um anjo fosforescente, brilhando nas trevas do submundo, onde sua luz hipnótica de transe-formação é revelada dentro dos montes de terra dos sepulcros decadentes dos mortos. Aqui se encontram suas fusões de papel com os de Perséfone e de Deméter, com a qual ela ficou associada dentro de mitos alternativos gregos. Deve ser lembrado que os gregos sempre viram Hecate como uma jovem donzela. Ela se tornou uma velha somente para os Romanos (que julgaram seus papéis conectados aos assuntos de sangue feminino - nascimento e menstruação - como impuros) quando Ártemis e Se1ene a suplantaram nesta forma (ibid). Martha Ann e Dorothy Myers-Imel (1993:157) também nos fazem lembrar, dentro dos Mistérios Eleusianos, o papel de Brimo (a Destruidora Terrível da vida) que dá a luz a Brimos (o Salvador) Ela é associada com Cybele, Deméter, Perséfone e Hecate e é também a guia Perséfone quando ela volta para o mundo da superfície, ao chegar do Inferno de Hades. Ainda assim é Phosphorous - aurora e crepúsculo, mãe e guardiã, a que traz a aurora da vida, nascimento e morte. Ela é a Estrela Matutina, a portadora da Gnose, a 'propylia' - aquela que fica diante do portal, e 'propolos' - a guardiã do limite e condutora, a líder do caminho (Robert von Rudolf, Horned Owl Library).

O mundo obscuro dos sonhos é onde George (1992:148) acredita que nós estejamos encapsulados, dentro do seio nutritício de Hecate; isolados do tempo e espaço, suspensos no tempo liminar, nós alcançamos um "ponto silencioso" (uma praxis mágica de não-ser). Este nosso momento de "nos tornarmos" é onde ela está, a verdadeira Dama do nosso destino. Nossa submissão total a ela traz as recompensas da verdadeira gnose. Hecate guia o peregrino verdadeiro, Hecate abençoa a criança recém nascida, e Hecate protege e guia a alma em sua jornada final. Lembre-se, esta bela e jovem fada-madrinha usa uma coroa de estrelas. É notado que os devotos dos Oráculos Caldeus planejaram promovê-la como Sortieria (Salvadora), uma deidade celeste e princípio cosmológico da alma cósmica, não diferentemente da 'alma mundial' dos Neo-Platonistas (Robert von Rudolf). Na Ásia Menor, por volta de 800 a.C., Hecate fazia parte da trindade de Cybele, da Mãe, Filha e Filho como Hecate e Hermes. Ainda por volta de 400 d.C. seus papéis se desenvolveram como a sombria e sinistra espreitadora de cemitérios, perscrutadora de almas, Rainha da Bruxaria e Feitiçaria, a patronesse de Circe e Medeia (ibid). Os Romanos a transformaram, aliando-a com Diana Triformus, e uma vez mais, compartilhada com Proserpina (Perséfone).

Picknett e Prince (1997: 85) relatam como Madalena é a forma por trás da Virgem/Madonna Negra e como um arcebispo dominicano se refere à ela como ambos, illuminati (A iluminada) e illuminatrix, papéis que lhe foram atribuídos dentro do Gnosticismo. Lendas afirmam que no final de sua vida ela vivia em uma caverna no Sul da França, previamente usada como foco de adoração a Diana Lucifera (a Illuminatrix). A discutível sociedade secreta conhecida como o Priorado de Sião também venera a Madonna Negra como a Notre Dame de Lumiere ou 'Nossa senhora da Luz ' (ibid: 101). Eles também insinuam seu papel como o de uma sacerdotisa de Isis, uma hierodule sagrada e initiatrix dos Mistérios - mas espere, Isis não está fora de lugar aqui? Essa associação não devia ser com Hecate? Picknett e Prince (111) vão adiante ao relatar como nos Pirineus, na catedral de St. Betrand-de-Commings, existe uma escultura que representa uma mulher alada e com pés de pássaro, dando luz a uma figura dionisíaca, com reminiscências ao Green Man. A mãe desta figura luciferiana é sugerida como sendo Lilith, e pode mesmo o ser. Mas lembre-se que assim como Hecate, Brimo deu à luz a Brimos, o salvador. Também é notável que lendas abundam dentro da região da Senhora Herodias, a líder da noite, megeras e bruxas. Herodias é um freqüente pseudônimo de Hecate, que compartilha dos mesmos totens, os animais noturnos. Além disso, pesquisadores franceses ligam Pedaque, a Rainha das Bruxas de pés de ganso à “'Rainha de Céu” - e assim, por uma associação moderna, à Isis. Contudo esse título é um epíteto mais antigo de Hecate, e os pés de pássaro trazem à mente outra rainha associada com sabedoria e gnose: Sheba, a sacerdotisa Abisag de Sunam do Rei Salomão.



Nos textos de Nag Hammadi, do Pistis Sophia ou Virgin of Light, Madalena é fortemente associada com Sophia, a companheira de Deus - que é tanto a Palavra como a Sabedoria. Os estudiosos agora acreditam que os fortes elementos de erotismo prevalecentes entre os textos revelam a natureza verdadeira dessa relação. As serpentes sempre denotaram sabedoria e estas também são totens de Hecate (Picknett & Prince 1997: 142-43): Sophia é a juíza dos mortos, ainda outro papel muito mais atribuído à Hecate do que à Isis. Além disso, foram os Cristãos Gnósticos (romanos) que identificaram Sophia com Isis. De seus pontos de vista cultural, Isis se tornou a predominante "Rainha do Céu", usurpando várias pretendentes mais antigas à este título. A imagem de Isis amamentando o jovem Horus adquiriu por preempção a imagem da Madonna e sua Criança, adotada mais tarde pelos iconógrafos Cristãos. Para os Romanos, Isis representava mais do que eles percebiam que fosse a Mãe Universal, divorciada da morte e de todas as matérias impuras. Os romanos espalharam a popularidade de Isis ao longo do seu império. Antes disso ela havia sido uma das várias deidades egípcias femininas e menos importantes do que Nut, Neith, Maat e Hathor. Enquanto sua popularidade cresceu, a de Hecate minguou. Assim denegrida como a Senhora da Bruxaria e Feitiçaria ela se imortalizou, despojada de seu verdadeiro lugar dentro da mídia popular e pública. Mas, em todo o sentido da palavra, Hecate foi ao Inferno, onde seus mistérios continuaram a ser apreciados por todos aqueles que conheceram suas verdadeiras origens.

Disfarçada como Sophia, seu papel como salvadora dentro dos reinos obscuros de filosofia afetaram profundamente os eruditos, alertas às suas verdadeiras formas de illuminatrix e initiatrix. Um estudioso medieval em particular reporta sua experiência tumultuosa com ela em trabalho seminal de Gerhard Wehr, The Mystical Marriage (1990:77) “... Logo depois de várias tempestades sentimentais, meu espírito atravessou os portões do Inferno para a divindade nascida dentro de mim, e eu estava cercado por amor como uma noiva querida é abraçada pelo seu noivo. Sobre o que é esse triunfo espiritual é algo que eu não posso escrever ou falar. Não pode ser comparado com qualquer coisa exceto receber a vida em meio à morte, realmente era como vida para alguém que se levanta dos mortos”. Palavras proféticas, realmente, e aqueles que experimentaram tal envolvente elevação sentirão facilmente uma empatia. Ainda além da beleza e filosofia da nobre Sophia, é Sophia Prounicos a prostituta gratuita - e somente a partir dela a sabedoria é completamente alcançada, uma fusão total do espírito magicamente transposto via ato sexual, o sacramento definitivo, uma transe-formação completa de mente, corpo e espírito, iluminação e completa gnose - o dom de Hecate, A Dama do "Caminho".

Picknett e Prince (1997:338-39) explicam como Maria de Betânia untou os pés e cabelos de Jesus com óleo aromático; um ritual realizado somente por uma hierodule, uma sacerdotisa que através desse ato proclama a “realeza” de Jesus. Sua soberania sagrada é executada pelos ritos de “horasis” (toque divino), ou orgasmo de corpo inteiro, facilitado somente através do sexo sagrado. Novamente, esses ritos sagrados eram realizados dentro de todas as antigas escolas de Mistérios antigos pelas hierodules ao fazer Osíris o rei, assim como Tammuz e Dionísio. Assim a prostituta se torna santa e o rei, divino. Esse ato sagrado permite à completa e definitiva deusa (Hecate) se manifestar. Neste caso dentro de Madalena, não como uma sacerdotisa de Isis, mas de Hecate. Ela é a Cara Amada, a Madonna Negra - a deusa escura e terrível. Ao longo do tempo sua Magia seduziu, destruiu e reanimou todos os que sucumbem ao seu abraço. Picknett e Prince (1997:430) enfatizam que a Deusa Mandeana (seita gnóstica) Ruha, regente dos reinos das trevas, também é vista como o Espírito santo.

Outros escritores de esoterismo reconheceram, há tempos, que o mundo oculto de Hecate existe além dos níveis superficiais apresentados pelas mitologias populares sobre ela. Ela é a dama da Magia psico-sexual, saltando entre os reinos e planos, transformando-se entre as sutilezas da carne e espírito. Grant (1996:173) descreve seu papel como a dama dos reinos da verdadeira Bruxa, aquela que pode atravessar dimensões alternativas. Sua corrente lunar ofidiana oferece uma renovação mágica da qual germina o culto Draconiano. Além disso, Grant revela Nyx/Nox como sendo a chave para o Abismo, a guardiã do Primeiro Portal dentro de Da'ath, a ponte entre mente e corpo, o lugar de transe-formação, e o lugar onde a gnose é alcançada. Essa ponte, quando ativada por práticas de ioga (tântrica), estimula e sensibiliza a pele, órgãos e olfato, emitindo kalas de luz negra, pelas quais todas outras luzes são iluminadas. Hecate é a initiatrix sexual definitiva, a mortalha de mistério e conhecimento. Ela é a Senhora da Sabedoria, o Dama Estelar e o Portal para os Outros Mundos, a quem Redgrove (1989:120) nomeia como 'Aimah Elohim Shekinah' (A Noiva de Deus ou os Deuses).

E é então que as sacerdotisas de Hecate representavam seus papéis iniciáticos, de Condutoras de Almas de Mar-Ishtar até Madalena e além. Quando a transfiguração está completa, o regresso do planalto de Hecate traz Charis, Karuna e Samadhi - beleza, compaixão e paz (Redgrove 1989: 125-26) Para os Gnósticos, Charis - a Redentora era o nome para o Cristo feminino, cuja eucaristia de sangue menstrual precedeu a do Cristo. (Ibid: 128) Novamente, é Hecate que é dama de todos os assuntos relacionados à menstruação, fertilidade, parto e morte. Hoje em dia, dentro das práticas de Ioga Tântrica e em algumas formas de Bruxaria Tradicional, as sacerdotisas continuam a adotar o papel de hierodule, canalizando Charis ao tocar a Magia “realizada dentro do círculo, que produz um sonho vívido sobre a pele e é uma entrada no astral pelo ato do toque divino” (Ibid). O dom da initiatrix é a sínese em que o teatro negro da mente se torna um receptáculo de luz, preenchendo o vácuo criado pelo ego deprimido e depurado.

Redgrove (1989:156) declara que Hecate é Maria-Lúcifer, o 'lumen naturae', a radiante escuridão e iluminadora da alma. Hecate de três faces, a Dama da Psique, que fica na encruzilhada de nosso inconsciente olhando as idas e voltas dentro de nossas vidas. Suas funções cumprem um paradoxo de critérios; de cura, de destruição, de sabedoria, de demência e de vida e morte (George 1992:145-47). Aqui, neste labirinto mental, nós enfrentamos nossos demônios, nossas subversões negativas. Aqui ela nos desnuda de nossas ilusões, eliminando todas as facetas que negam nossa inteireza. Ao amá-la estamos amamos a nós mesmos... A revelação da Gnose verdadeira é a realização da Divindade inerente de si próprio.

Nenhuma forma definitiva de Hecate existe, e representações espaciais dela refletem somente as necessidades do momento; assim ela permanece como a Deusa Negra definitiva, a serpente primitiva da iluminação cósmica, papel que ela compartilha com Lúcifer, o portador da luz. Juntos eles são os seres gêmeos de Phosphorous, os portadores da tocha da verdadeira gnose.


1) Kalas - Estrela, perfume, essência, ungüento, etc. É a fonte de Kali, deusa do Tempo. Em Tantra refere-se especificamente às vibrações vaginais trazidas pela intensificação de procedimentos rituais durante a realização dos ritos Kaula. Vibração de natureza lunar. (Fonte de referência: Aleister Crowley and the Hidden God, Kenneth Grant, Skoob Books Publishing).


2) Pneuma orgasmos - orgasmos espirituais, pneuma refere-se à centelha divina, intelecto divino.


3) Maithunic - de Maithun, cópula, união, congresso. No Tantra é literalmente a cópula, tanto simbólica quanto a real. Maithuna é um dos cinco Makaras.(Fonte de referência: Aleister Crowley and the Hidden God, Kenneth Grant, Skoob Books Publishing).

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